Uma Reflexão sobre a Ansiedade
Recentemente, eu tenho observado com maior clareza alguns padrões da minha vida. Comportamentos que por muito tempo estavam enraizados no meu inconsciente, rodando de forma automática, e que, por diversos motivos, estão sendo reconhecidos e observados pela minha parte consciente. E com isso, eu acredito ter descoberto a verdadeira causa da minha ansiedade.
Para poder contar essa história, eu preciso voltar um pouquinho no tempo:
Faz aproximadamente 2 anos que eu me tornei o lançador de um grande projeto digital. Nesses 2 anos, o projeto praticamente quadruplicou o seu tamanho e alcance. E como em qualquer projeto que prospera, as responsabilidades e demandas crescem juntos.
A empolgação com o crescimento, o dinheiro entrando, a percepção de que você dominou certa habilidade e que isso é reconhecido pelo mundo, trazem grande energia para seguir fazendo o trabalho, mesmo que, com o tempo, os excessos comecem a ser notados. E, agora eu vejo, que se o cuidado não for tomado, um projeto que começa de forma alegre e com propósito, pode se tornar causa de muitas dores.
No caso da minha história, a quantidade de trabalho começou a se tornar excessiva e ininterrupta, e não só para mim. Nesse processo, a ausência de conversas difíceis e necessárias por um período mais longo do que deveria, acarretou num desgaste das relações, amplificadas, na minha opinião, pelo trabalho remoto, já que a falta da presença física pode facilitar a diminuição da empatia.
Em resumo, até recentemente, o trabalho tinha se tornado um ponto de dor. As relações ruins, o trabalho excessivo. A minha vontade, por uns bons meses, era só de fugir dessa situação. Nesse contexto, obviamente, minha ansiedade disparava diariamente. E esse é o primeiro ponto que eu gostaria de trazer a atenção: a ansiedade disparava por uma aparente necessidade de fugir da dor.
Durante esse período, eu tinha a certeza de que a causa central da minha ansiedade era o trabalho. Ou eu encarava o trabalho e me sentia sobrecarregado, por conta de demandas que não paravam de chegar, ou eu buscava fugir da situação, me proporcionando, por exemplo, momentos na natureza, mas que costumavam vir acompanhados de culpa.
Até que, em janeiro deste ano, 2022, eu tive um burnout, bem no começo de 2 semanas de férias, muito aguardadas por sinal. Na semana seguinte, eu peguei covid. Eu cheguei no meu limite, e tive que voltar para trabalhar, ainda doente, para rodar um grande lançamento, no começo de fevereiro.
Esse processo foi tão dolorido, tão intenso, que não dava mais para fugir, fingir ou evitar nada. Eu comecei a ter todas as conversas necessárias, treinei pessoas para fazerem parte do meu trabalho, aprendi a delegar tarefas e a comandar equipes. Nos últimos meses, minha qualidade de vida melhorou bastante, e com mais tempo livre, minha reflexão sobre a ansiedade teve mais espaço para se desenvolver.
No fundo, o meu trabalho é (ou era?) mergulhar nos projetos de outras pessoas e instalar modelos de negócio que auxiliam esses projetos a prosperar na Internet. Eu estava me dedicando 100% a crescer o sonho dos outros, e quando aquilo começou a se tornar excessivo, eu não tinha onde me abrigar. Eu não tinha um projeto próprio que pudesse me proteger, psicologicamente e financeiramente, de uma situação como essa. Portanto, eu só cheguei nesse limite, porque eu não tinha construído nenhuma outra possibilidade para a minha vida. Eu me tornei um refém do meu próprio padrão de comportamento.
E digo que me tornei um refém, porque, bem no fundo, eu sempre soube que começar um projeto pessoal era importante e necessário. Mas a dor de começar a me expor e de botar minhas ideias no mundo, sempre me fizeram adiar essa criação. Só que, quando eu passei pelo burnout e cruzei um limite, eu comecei a ter a clareza do verdadeiro custo dessa inação.
A minha ansiedade não era causada exclusivamente pela necessidade de fugir de uma situação dolorosa, mas principalmente por não ter para onde correr, caso eu não conseguisse mais dar conta de trabalhar da forma como eu vinha trabalhando. A verdadeira raiz da minha ansiedade era estar sempre adiando os meus sonhos.
Felizmente, no meu caso, a história está tendo uma continuidade feliz. Ao ter as conversas difíceis, expor a minha situação e as minhas dores, começar a treinar pessoas e delegar tarefas, eu tive diversos aprendizados e mais tempo livre. Cresci e amadureci nesse processo. Criei esse blog, estou ajudando pessoas que estão vivendo situações similares, e ao estar trazendo os meus sonhos para a realidade, parece que os outros trabalhos ocupam agora o seu devido lugar na minha vida.
O aprendizado sobre a verdadeira causa da minha ansiedade, me diz que muitas pessoas também acreditam que a sua ansiedade está sendo causada por uma necessidade de fugir de uma situação dolorosa, que nem sempre pode ser cumprida, como no caso de um emprego. Isso pode ser verdade, mas eu te convido a refletir, se este for o seu caso, no custo silencioso que adiar seus sonhos, projetos, novas habilidades, viagens, etc está contribuindo para a sua sensação de desamparo, verdadeira raiz de muitos processos ansiolíticos.
Pela minha experiência, começar a resgatar, ao menos parte do seu tempo, para se dedicar a criar algo, desenvolver uma nova habilidade, ou para se dedicar com qualidade às pessoas que você ama, pode te libertar, ou amenizar significativamente, de processos mentais e emocionais desafiadores. Tudo começa com a decisão de recuperar a própria dignidade e autoestima. Você é capaz, confia.